Algumas das minhas modestas experiências musicais que aqui irão ficar registadas.
Dei conta no final do ano passado 2014, princípio deste ano 2015 de uma polémica que ainda se infiltrou um pouco nas redes sociais acerca de um suposto “crime de lesa a pátria” que a câmara se preparava para cometer aprovando e cito “ uma torre de 17 pisos” na Avenida Fontes Pereira de Melo/ Avenida 5 de Outubro. A arquitectura só recentemente tem vindo a ser tratada nos media do plano crítico por gente que sabe como Nuno Portas, Jorge Figueira, Paulo Martins Barata, Ana Vaz Milheiro, Ana Tostões, Pedro Gadanho, e outros, porque para trás só me recordo da excepção que foi Paulo Varela Gomes, figura extraordinária e fascinante da nossa cultura que me deixa saudades do que escreveu regularmente a partir de 1985 sobre arquitectura e arte como ocupação parcial da sua extraordinária vida como homem das Humanidades, professor, investigador e intelectual, (ver artigo de Jorge Figueira no jornal Público por altura da última aula de PVG na Universidade de Coimbra em Dezembro de 2012 http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/a-ultima-aula-de-paulo-varela-gomes-1578475), hoje dedica-se a escrever, mas romances muito bons ancorados na suas experiências de vida como por exemplo na India. O péssimo jornalismo na área da arquitectura sempre nos habituou á prosa fácil (felizmente rara porque má), desinformada e inculta no que toca a arquitectura, ou quem não se lembra das polémicas do “franjinhas”, CCB, etc.? Os temas foram sempre tratados de modo popular e inculto sempre ancorados nos preconceitos do bonito/feio/muito alto/baixo/gosto não gosto e pouco mais, desde que o sensacionalismo de primeira página venda o produto. Não são pedagógicos. O que me apetece lançar em debate é o seguinte: 1 _ Um edifício com 17 pisos na Avenida Fontes Pereira de Melo/ Avenida 5 de Outubro, não é demais nem de menos, muito menos uma torre, porque o resultado de um processo e metodologia arquitectónica complexos não se avalia ao metro. 2 _ Uma torre, definição clássica de muitas formas construídas, arquitecturas ou não, caracteriza-se por uma relacção dimensional entre a sua altura e a sua largura que não se pode traduzir num rácio e de 1/1,3 como é o caso deste edifício, pelo que esta abordagem é populista, ignorante, tendenciosa e inculta. O edifício atinge a cota altimétrica de 144,95, enquanto o Sheraton a cota 164,58. 3 _ Uma vez adquirido o que atrás disse passo ao projecto em si mesmo, e sobre o qual, tenho a dizer o seguinte: É uma intervenção arquitectónica equilibrada que tenta pela forma, articulação volumétrica, materiais e cor, inserir-se como um novo protagonista do lugar de modo silencioso que recupera o protagonismo das circunstâncias envolventes construídas existentes (em abandono absoluto há décadas) e promove uma proposta de espaço público de estar exterior a meu ver de grande qualidade. A solução em altura permite libertar território para novo espaço público que passará a ser apropriado pelo público através de espaços amplos, praça, jardim, percursos sedutores que constituirão outro modo de cruzar a Avenida 5 de Outubro com a Avenida Fontes Pereira de Melo sem desvirtuar a memória do lugar. A Casa museu Anastácio Gonçalves ganha uma nova dignidade e visibilidade enfatizada precisamente pelo confronto volumétrico e não o contrário, assim como a sua integração na criação da nova praça entre o edifício novo e a Maternidade Alfredo da Costa que cria um novo paradigma urbano para as pessoas que percorrem a cidade onde anteriormente nada se passava de interessante. O eixo 5 de Outubro/FPMelo ganha um novo referencial visual tão importante para a orientação dos cidadãos na cidade (Kevin Lynch e outros tantos). 4 _ Lamento
Lamento a forma brutal como foi criado o parque de estacionamento público fora do lote, que contribui negativamente para a impermeabilização dos solos da cidade, com consequências perversas. Penso que tínhamos outras soluções. Bom projecto este do atelier dos arquitectos quase jovens Patrícia Barbas e Diogo Lopes para a cidade de Lisboa, digo eu. 2015/04/21 lisboa 1_Esta conversa deveria estar a acontecer em 2013 mas tenho andado distraído. 2_Tenho um afecto especial pelos percursos da zona ribeirinha do rio Tejo onde gosto de passear,correr ou simplesmente disfrutar . É uma área da cidade de Lisboa de características únicas no mundo mesmo se comparada com outras como Boston, NY, Londres, Paris etc. É uma questão de escala : do rio, da cidade _ cenário envolvente, das próprias construções ribeirinhas, enfim emoções percepcionadas pelas memórias do lugar, afinal aquilo que liga nos afectivamente ao território, o "espírito do lugar" (ver Norberg-Schulz, Christian.Genius Loci: Towards a Phenomenology of Architecture.New York: Rizzoli, 1980 e Merleau– Ponty, M, Phenomenology of Perception,Gallimard,1945). 3_Para quem esteja familiarizado com os conceitos e teorias subjacentes às tradicionais intervenções do Futuresystem, naturalmente não esperaria deste projecto de Amanda Levete qualquer tipo de contextualismo na sua proposta para o Centro de Arte e Tecnologia da FEDP, a arquitectura formal/objecto autónoma seria inevitavelmente o fio condutor gerador de novas relacções assumindo-de uma proposta vanguardista e tecnologicamente muito avançada, resultante do experimentalismo, que sempre subscrevi e subscrevo. 4_Porém, e surpreendentemente, ao invés da tradição nas intervenções em zonas urbanas históricas e/ou consolidadas (armazéns Selfridges, ou mesmo Kunsthaus Graz na Austria, de Peter Cook and Colin Fournier 2003 e porque não a Casa da Música de Rem Koolaas_OMA) a proposta de Amanda Levete para o Centro de Arte e Tecnologia da FEDP tenta desesperadamente criar uma narrativa de intimidade do meu ponto de vista fatal com o edifício da Central Tejo (Companhias Reunidas de Gás e Electricidade _CRGE, admirável exemplo de arquitectura industrial do princípio do séc. XX, da autoria do engenheiro Lucien Neu, que também viria a ter intervenção na Central do Ouro do Porto). 5_Quando se afirma que Amanda Levete refere que "a sua arquitectura orgânica estabelece uma relação fluída e natural entre a cidade e o rio", não só penso que não o consegue (porque a violenta artificialidade topográfica me parece neste caso despropositada e não o permite) como "amordaçará" para todo o sempre o referencial arquitectónico afirmativo que "ainda" é o edifício da Central Tejo e que constitui "espirito do lugar" porque memória indelével do mesmo.
6_Amanda Levete, arquitecta britânica premiada no Reino Unido (RIBA Stirling Prize for architecture in 1999 com o projecto Lord's Media Centre em Londres) tem um percurso consistente que remete para a formação na conceptual AA School of Architecture e posteriormente consolidado no trabalho conhecido do escritório FutureSystems fundado por Jan Kaplický podendo-se destacar dois dos projectos mais mediáticos como os armazéns Selfridges in Birmingham, a casa Malator em Druidston, Pembrokeshire, Wales, 1998 conhecida também como "Teletubby house"_ http://ideasgn.com/architecture/house-in-wales-future-systems/_ . Epílogo Caminhando para o pôr-do-sol, a brisa do rio quase salgado deslizando na minha face não mais me fará reconhecer onde estou, para onde vou...só o olfacto. ver aqui no Público os 19 projectos portugueses candidatos ao prémio Mies Van Der Rohe 2015, uma luz na sombra do país irreal... sim porque isto é que é o país real.(foto retirada do site do Público)
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May 2016
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