DEMOCRATIZAÇÃO QUALIFICADA _ OA 1998_2001
Se a massificação pode conduzir à banalização , já o mesmo não se pode inferir da inevitabilidade dos seus malefícios de forma indiscriminada.
É um facto que hoje , a mediatização de tudo na famigerada sociedade da informação difunde em velocidades cósmicas incontroláveis , ideias , referenciais , “slogans” e acima de tudo aquilo que se pode designar por “novos preconceitos” de primitivismo fundamentalista estereotipado e desfasado no tempo.
É assim que o significado das palavras e as suas conotações semânticas , através do uso inadequado intencional ou não das mesmas , constituí um novo instrumento de padronização castradora da mente colectiva.
Aqueles que aparentemente se preocupam com a massificação/banalização acabam por ser os novos ditadores da padronização cultural mais elitista que nunca.
Que incompatibilidade há então entre este pensamento e a presente realidade? Serão os mesmos que ontem reclamavam a cultura para as massas , que hoje , talvez com receio da perda de privilégios deturpam intencionalmente o sentido das coisas , numa atitude desesperada , conservadora e egocêntrica tentando manter-se fechados sobre si próprios receosos do confronto?
Não é a mesma coisa massificar ou banalizar comportamentos sociais reprováveis e massificar ( democratizar ) a cultura e o livre acesso à mesma , sendo que ambas podem conduzir aquilo que podemos (se quisermos) enquadrar na banalização não no sentido pejorativo do termo que lhe queiramos incutir , mas tão simplesmente no plano da normalidade ou vulgaridade qualificada ( sociedade perfeita ? ).
Isso é mau ? No primeiro caso sim , no segundo não.
A democratização do ensino não pode reduzir-se ao plano teórico porque seria redutora da essência de que advém.
Inevitavelmente os privilégios banalizam-se , vulgarizam-se , democratizam-se… e ainda bem.
Claro que as consequências são eventualmente incómodas para aqueles que descansam letárgica e confortavelmente nos grupos de elite dominante da profissão.
Não queiram convencer-me de que a criação das Ordens Profissionais têm a sua legitimidade de origem na necessidade do controle da qualidade do exercício profissional em função da quantidade !
Para os que assim pensam , proponho que façamos uma reflexão acerca dos resultados do exercício profissional das últimas décadas , enquanto éramos poucos. Da produção arquitectónica (?) desse grupo inofensivo (?) ,porque poucos , não se podem os arquitectos excluir da responsabilidade , ainda que parcial , do “notável” ordenamento do território , preservação do património construído , da paisagem e do edificado , cuja pesada herança é o campo de intervenção para os arquitectos de hoje.
Todos conhecemos e reconhecemos naturalmente as excepções , que confirmam a generalização da ausência de qualidade da produção arquitectónica .A profissão não estava massificada (?): não … Então?
O que mudou dessa altura até hoje?
Duas coisas pelo menos:
Primeiro - NADA.
O castrador 73/73 manteve e mantém a paradoxal permissividade de leigos subscreverem projectos ditos de arquitectura – porque de arquitectura não se trata certamente.
No entanto , em vastas áreas metropolitanas e outras do país , planos , projectos de edifícios etc. que só podem ter sido obras subscritas por arquitectos são bem reveladoras de péssimas intervenções e a classe tem de carregar este fardo por mais pesado que ele seja. Nessa altura os arquitectos eram poucos e presumo que o ensino da Arquitectura não estava massificado! Sejamos humildes e façamos o nosso acto de contrição…mesmo os agnósticos.
Segundo - TUDO
O crescente número de arquitectos uns mais , outros menos jovens , tem como resultado da oportunidade que lhes foi dada ( de resto constitucionalmente consignada ) de escolherem o seu ofício , constituindo nichos por todo o País de uma nova consciência e cultura arquitectónica que se revela através de intervenções diversas , concursos ganhos , etc. reveladores de uma nova atitude e cultura arquitectónica com “Escola” seja ela do Porto, de Lisboa , ou Holandesa , mas que anuncia uma geração válida que enquadrará a produção arquitectónica do próximo milénio , fazendo justiça e dando continuidade ( espero com diversidade criativa ) ao que hoje se pode considerar já a primeira produção arquitectónica Portuguesa internacionalmente reconhecida dos consagrados.
CONCLUINDO
1. Mesmo quando éramos poucos ,também fomos responsáveis por alguma da mediocridade na produção arquitectónica , o que prova que a dita massificação do ensino não implica inevitavelmente falta de qualidade.
2. A Arquitectura para os arquitectos continua a ser mentira e tudo indica que continuará a ser , pelo que acima de tudo , e em paralelo com o acompanhamento que a OA deverá fazer da qualidade do ensino estritamente no âmbito do exercício da profissão e na defesa intransigente da arquitectura , tem que orientar todos os seus esforços para a aniquilação daquela aberração legislativa que só promove interesses económicos e corporativos de grupos profissionais totalmente alheios à cultura arquitectónica.
3. Só assim se dará oportunidade á nova geração de arquitectos de provarem as suas capacidades por todo o território nacional.O fantasma do desemprego para os arquitectos está por provar até à necessária e urgente extinção do 73/73. De resto , a necessidade de uma Ordem que enquadrasse as diferentes áreas do exercício da profissão talvez sempre tivesse feito falta , mesmo quando éramos poucos , muito mais hoje por maioria de razão. Contradição ? Talvez não.
4. A atenção da OA deve quanto a mim concentrar-se em matéria muito mais vasta e que atinge os contornos mercantilização da profissão designadamente pelos efeitos de padronização das directivas dos senhores tecnocratas da CE. Enquanto estoicamente se foi consolidando uma “ nova arquitectura Portuguesa” , fomos sendo envolvidos nas teias doutrinárias inquestionáveis das Directivas , cuja virótica influência já produziu efeitos perversos , caso da Áustria , Grã-Bretanha e da vizinha Espanha , onde por via da pressão política – leia-se económica – Europeia , os arquitectos espanhóis viram-se despojados da sua autoridade responsável , perdendo o apoio regulador fundamental dos Colégios de Arquitectos , votando ao abandono e livre arbítrio das leis do mercado especulativo não cultural a qualidade dos projectos até então controlados pelos Colégios , assim como o justo valor dos seus honorários. Tudo em nome da globalização , pseudo democratização e livre concorrência : a Lei da Selva. Tudo isto num País onde a formação dos arquitectos e a qualidade da produção arquitectónica está a “anos luz” do nosso.
Acresce que nós temos o 73/73 , eles não.
É na consolidação duma verdadeira cultura arquitectónica , que passa pela adequada formação académica e profissionalizante contínua que nos devemos concentrar , e cujo espelho desta virtualidade poderá ser a OA , pela prática culta e competente das suas iniciativas se transforme através de uma imagem insuspeita , plural , de excelência , no instrumento fundamental de defesa do património construído e do território.
O papel social do arquitecto como homem com uma visão universalista , poder de síntese conciliador da arte , técnicas e humanidades , está no centro de gravidade da resolução dos problemas do ordenamento do território ,da paisagem e do edificado.
Somos muitos ? Está por quantificar quantos fazem o que não lhes diz respeito e aos arquitectos pertence.
Substituam-se já!
É um facto que hoje , a mediatização de tudo na famigerada sociedade da informação difunde em velocidades cósmicas incontroláveis , ideias , referenciais , “slogans” e acima de tudo aquilo que se pode designar por “novos preconceitos” de primitivismo fundamentalista estereotipado e desfasado no tempo.
É assim que o significado das palavras e as suas conotações semânticas , através do uso inadequado intencional ou não das mesmas , constituí um novo instrumento de padronização castradora da mente colectiva.
Aqueles que aparentemente se preocupam com a massificação/banalização acabam por ser os novos ditadores da padronização cultural mais elitista que nunca.
Que incompatibilidade há então entre este pensamento e a presente realidade? Serão os mesmos que ontem reclamavam a cultura para as massas , que hoje , talvez com receio da perda de privilégios deturpam intencionalmente o sentido das coisas , numa atitude desesperada , conservadora e egocêntrica tentando manter-se fechados sobre si próprios receosos do confronto?
Não é a mesma coisa massificar ou banalizar comportamentos sociais reprováveis e massificar ( democratizar ) a cultura e o livre acesso à mesma , sendo que ambas podem conduzir aquilo que podemos (se quisermos) enquadrar na banalização não no sentido pejorativo do termo que lhe queiramos incutir , mas tão simplesmente no plano da normalidade ou vulgaridade qualificada ( sociedade perfeita ? ).
Isso é mau ? No primeiro caso sim , no segundo não.
A democratização do ensino não pode reduzir-se ao plano teórico porque seria redutora da essência de que advém.
Inevitavelmente os privilégios banalizam-se , vulgarizam-se , democratizam-se… e ainda bem.
Claro que as consequências são eventualmente incómodas para aqueles que descansam letárgica e confortavelmente nos grupos de elite dominante da profissão.
Não queiram convencer-me de que a criação das Ordens Profissionais têm a sua legitimidade de origem na necessidade do controle da qualidade do exercício profissional em função da quantidade !
Para os que assim pensam , proponho que façamos uma reflexão acerca dos resultados do exercício profissional das últimas décadas , enquanto éramos poucos. Da produção arquitectónica (?) desse grupo inofensivo (?) ,porque poucos , não se podem os arquitectos excluir da responsabilidade , ainda que parcial , do “notável” ordenamento do território , preservação do património construído , da paisagem e do edificado , cuja pesada herança é o campo de intervenção para os arquitectos de hoje.
Todos conhecemos e reconhecemos naturalmente as excepções , que confirmam a generalização da ausência de qualidade da produção arquitectónica .A profissão não estava massificada (?): não … Então?
O que mudou dessa altura até hoje?
Duas coisas pelo menos:
Primeiro - NADA.
O castrador 73/73 manteve e mantém a paradoxal permissividade de leigos subscreverem projectos ditos de arquitectura – porque de arquitectura não se trata certamente.
No entanto , em vastas áreas metropolitanas e outras do país , planos , projectos de edifícios etc. que só podem ter sido obras subscritas por arquitectos são bem reveladoras de péssimas intervenções e a classe tem de carregar este fardo por mais pesado que ele seja. Nessa altura os arquitectos eram poucos e presumo que o ensino da Arquitectura não estava massificado! Sejamos humildes e façamos o nosso acto de contrição…mesmo os agnósticos.
Segundo - TUDO
O crescente número de arquitectos uns mais , outros menos jovens , tem como resultado da oportunidade que lhes foi dada ( de resto constitucionalmente consignada ) de escolherem o seu ofício , constituindo nichos por todo o País de uma nova consciência e cultura arquitectónica que se revela através de intervenções diversas , concursos ganhos , etc. reveladores de uma nova atitude e cultura arquitectónica com “Escola” seja ela do Porto, de Lisboa , ou Holandesa , mas que anuncia uma geração válida que enquadrará a produção arquitectónica do próximo milénio , fazendo justiça e dando continuidade ( espero com diversidade criativa ) ao que hoje se pode considerar já a primeira produção arquitectónica Portuguesa internacionalmente reconhecida dos consagrados.
CONCLUINDO
1. Mesmo quando éramos poucos ,também fomos responsáveis por alguma da mediocridade na produção arquitectónica , o que prova que a dita massificação do ensino não implica inevitavelmente falta de qualidade.
2. A Arquitectura para os arquitectos continua a ser mentira e tudo indica que continuará a ser , pelo que acima de tudo , e em paralelo com o acompanhamento que a OA deverá fazer da qualidade do ensino estritamente no âmbito do exercício da profissão e na defesa intransigente da arquitectura , tem que orientar todos os seus esforços para a aniquilação daquela aberração legislativa que só promove interesses económicos e corporativos de grupos profissionais totalmente alheios à cultura arquitectónica.
3. Só assim se dará oportunidade á nova geração de arquitectos de provarem as suas capacidades por todo o território nacional.O fantasma do desemprego para os arquitectos está por provar até à necessária e urgente extinção do 73/73. De resto , a necessidade de uma Ordem que enquadrasse as diferentes áreas do exercício da profissão talvez sempre tivesse feito falta , mesmo quando éramos poucos , muito mais hoje por maioria de razão. Contradição ? Talvez não.
4. A atenção da OA deve quanto a mim concentrar-se em matéria muito mais vasta e que atinge os contornos mercantilização da profissão designadamente pelos efeitos de padronização das directivas dos senhores tecnocratas da CE. Enquanto estoicamente se foi consolidando uma “ nova arquitectura Portuguesa” , fomos sendo envolvidos nas teias doutrinárias inquestionáveis das Directivas , cuja virótica influência já produziu efeitos perversos , caso da Áustria , Grã-Bretanha e da vizinha Espanha , onde por via da pressão política – leia-se económica – Europeia , os arquitectos espanhóis viram-se despojados da sua autoridade responsável , perdendo o apoio regulador fundamental dos Colégios de Arquitectos , votando ao abandono e livre arbítrio das leis do mercado especulativo não cultural a qualidade dos projectos até então controlados pelos Colégios , assim como o justo valor dos seus honorários. Tudo em nome da globalização , pseudo democratização e livre concorrência : a Lei da Selva. Tudo isto num País onde a formação dos arquitectos e a qualidade da produção arquitectónica está a “anos luz” do nosso.
Acresce que nós temos o 73/73 , eles não.
É na consolidação duma verdadeira cultura arquitectónica , que passa pela adequada formação académica e profissionalizante contínua que nos devemos concentrar , e cujo espelho desta virtualidade poderá ser a OA , pela prática culta e competente das suas iniciativas se transforme através de uma imagem insuspeita , plural , de excelência , no instrumento fundamental de defesa do património construído e do território.
O papel social do arquitecto como homem com uma visão universalista , poder de síntese conciliador da arte , técnicas e humanidades , está no centro de gravidade da resolução dos problemas do ordenamento do território ,da paisagem e do edificado.
Somos muitos ? Está por quantificar quantos fazem o que não lhes diz respeito e aos arquitectos pertence.
Substituam-se já!